18 de dezembro de 2015





Você não sofre porque as coisas são impermanentes.
Você sofre porque as coisas são impermanentes e você 
acha que elas são permanentes. 
(Thich Nhat Hanh) 

A cada ano que se encerra e outro que se inicia, são comuns as avaliações de tudo o que ganhamos e perdemos naquele ciclo que passou. Costumamos nos lamentar pelo que se foi e não raramente esta dor nos acompanha por muitos outros anos. 

A dor da perda surge do nosso desejo de que aquilo que nos agrada não mude nunca, mas sequer percebemos que tudo está se transformando o tempo todo e que esta luta pela manutenção das coisas é uma batalha perdida. 

Duas palavras têm sido muito usadas para definir as características do ser humano de se adaptar e aceitar sua finitude: resiliência e impermanência. A "resiliência" é característica originalmente empregada na física, para definir corpos que apresentam capacidade de retornar à forma original, sem perder a sua essência, após terem sido submetidos a uma deformação elástica, e hoje é usada pela psicologia para falar da habilidade dos seres humanos de se adaptar às situações que se apresentam. A "impermanência", por sua vez, é um conceito chave para o budismo, que prega a necessidade de compreensão de que tudo é transitório, inconstante e tende a acabar. 

Apesar de importante, a resiliência não é suficiente para a aceitação das perdas, pois é possível seguir com a rotina mesmo vivenciando um grande sofrimento. O que se busca com a compreensão da impermanência das coisas, das pessoas e das condições é que os movimentos naturais da vida não cause tanta dor. 

Tudo o que conhecemos tem um ciclo: nascer, crescer e morrer. Tudo o que existe, após um fase de estabilidade, começa a se deteriorar até o seu fim. Verificamos isso nos nossos móveis, nas nossas roupas, nos nossos livros e até mesmo na nossa casa, que precisa de manutenção constante para não sucumbir. Observamos a deterioração também nos nossos corpos, nas plantas, nos animais. Em uma proporção tão pequena que é imperceptível aos nossos olhos, estamos cientes desse ciclo nas montanhas, nas florestas, nos rios e nas cidades que já foram grandes impérios em outros momentos da história e hoje são meros sítios abandonados. Sabemos que o movimento de finitude acontece até com o nosso planeta, que um dia não mais existirá. 

Ainda assim, mesmo diante da extinção iminente de coisas tão grandiosas como a vida, a natureza e a Terra, insistimos em desejar que situações muito mais frágeis durem para sempre: nossas relações, amores, empregos. Sofremos ao mudar de cidade, de casa, de escola. Lamentamos todos os dias a perda da nossa juventude, beleza, vitalidade. Todas coisas que deveríamos prever desde sempre que irão terminar. 

Nem mesmo o que parece essencial e prioritário em nossas vidas subsiste por muito tempo. Não há nada mais temporário do que os nossos desejos. Quando crianças, queremos desesperadamente o aconchego e alimento materno e, alguns anos depois, exigimos independência e espaço. O mesmo ocorre nos relacionamentos amorosos, quando aquele sem o qual não poderíamos viver, de repente passa a ser uma presença intolerável. 

A Monja Coen Sensei explica que nossa resistência às mudanças acontece porque "o ser, o Eu, por definição é uma estrutura invariante – se modifica ao longo do tempo longo, mas no curto e médio espaço de tempo, se mantém mediamente constante". 

Somos facilmente distraídos pelas atividades diárias e não damos plena atenção às mudanças que estão acontecendo em nós e que podem nos afastar de coisas que gostamos ou nos aproximar do que antes repelíamos. Assim, não é incomum que fiquemos surpresos ao perceber que simplesmente perdemos o vínculo que nos unia à pessoas e situações que antes amávamos, mas este não foi um movimento que aconteceu de repente, só não estávamos atentos. 

Sentimentos tão comuns em momentos de reavaliação da vida, como o abandono, a rejeição, a perda e a solidão, seriam mais facilmente digeridos se compreendêssemos a impermanência de tudo. Se entendêssemos que aqueles que nos deixaram nunca foram nossos e só estavam de passagem pelas nossas vidas, que a saúde é um luxo que irá se esgotar e que tudo o que acreditamos possuir tende a desaparecer, não vivenciaríamos a angústia diária de perder aquilo que não temos. Porque a angústia se alimenta da nossa certeza de que jamais teremos o que amamos para sempre e de que não há nada que possamos fazer para mudar isso. Se compreendêssemos verdadeiramente a impermanência de tudo, só sobraria tempo para apreciar cada instante, antes que ele termine. 

Luiza 
CVV Belém - PA